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O MOSAICO DE

HISTÓRIAS

A música e as suas representações na vida de participantes do canto coral

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               ispostos em uma roda, olhando uns para os outros, cantam. Misturados entre vozes agudas e graves, representam. Já de longe é possível ouvir os 27 timbres diferentes que fogem pelo vão da porta do teatro em que ensaiam, na Faculdade Paulistana. E é assim que começa a história do Grupo Mosaico, com seis meses de existência, convivência e enlaces de vidas.

"NO MOSAICO AS VOZES SE SUSTENTAM"

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     "No mosaico, as vozes do coro se sustentam e isso é maravilhoso. Nós não somos profissionais, mas a nossa força é como se fôssemos. Temos muito tempo cantando, então todo mundo tem uma prontidão legal”, comenta Amanda Temponi, 19, soprano e estudante de música.

   Ser corista? Isso jamais passou pela cabeça de Amanda até um certo incidente. “Eu torci o pé jogando handball no ensino médio e minha mãe não podia me levar no hospital. Então eu tive que ir com ela para a oficina de música e lá conheci o Edu (regente). Ele percebeu em mim uma musicalidade e me chamou para cantar em coral. Desde então, eu não parei mais”, relembra a jovem que há oito anos canta em diversos coros.

      A música é persuasiva, inquieta e sempre encontra uma forma para mostrar que se faz presente. De tão sútil, encanta e, por ser poderosa, apaixona. Essa foi a realidade vivida por Ricardo Barison, 29, tenor e, atualmente, rege três corais. “Na verdade, eu fazia fonoaudiologia na UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo) e conheci uma amiga que fazia parte do coral da faculdade. Eu sempre toquei violão e desde os 13 anos queria fazer música, mas não segui. Achava que não dava dinheiro. Vendo essa oportunidade, resolvi participar e me apaixonei. O coral fez eu largar a faculdade e mudar para Música. Só aí eu vi que dava para ganhar dinheiro”, conta.

 

 

     Para outros, a musicalidade é um instrumento, como um toque suave de um violão, ou com o som estrondoso de um trombone. Mas, de tão surpreendente, ela também pode estar dentro de você. Esse foi o choque que Luís Guilherme Anselmi, 23, tenor e estudante de música rapidamente entendeu. “Conheci o que um coral pode fazer, de verdade, depois que eu entrei na USP (Universidade de São Paulo) em 2011, no curso de Geografia. Quando vi o CORALUSP em ação, eu vi um mundo maravilhoso e abandonei tudo para fazer Música”, recorda.

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      Durante um ensaio, a luz se esvai. Escutam-se gritos que rondam os andares de toda a faculdade, mas, naquela roda, algo se modifica. As vozes transbordam e tomam conta de todo teatro. Qualquer pequeno canto, cadeira, palco, consciência que estivessem vazias, foram completas por timbres que, juntos, entoavam a Música Popular Brasileira com maestria, pelas mãos de Eduardo Fernandes, o regente. Fechávamos os olhos, as luzes dos celulares se apagavam, uma a uma, criando, sem querer, uma cena. Estávamos todos presentes ali, mas a mente já havia fugido para muito além daquelas limitações.

"FORAM TRÊS HORAS DE ÊXTASE"

      “Para mim foi muito sensacional. A gente estava experimentando repertórios e eu estava desesperado para estrear com o Mosaico, sem contar que o lugar era maravilhoso. Foram três horas de êxtase seguidas! Até brinquei com o pessoal que eu estava em outro mundo. Fiquei naquele palco o tempo inteiro e, nossa, eu estava me deliciando”, esclarece Luís sobre a estreia anual do grupo no dia 4 de abril, na Sala do Conservatório, em parceria com o coral Cantando no Quintal, por meio da iniciativa da prefeitura de São Paulo chamada “São Paulo Cidade Coral”.

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     E essa música, em forma de voz, pode estar nos menores e simples momentos da vida, até mesmo no tempo doce e despreocupado de uma colorida infância. “Desde criança eu curtia e brincava muito cantando. Lembro que usava o tabuleiro de xadrez para fingir shows”, conta Mila Cruz do Valle, 36, que canta desde seus 18 anos. No grupo, é contralto e, na vida, fonoaudióloga.

 

     Não adianta fugir ou tentar escapar, se esse “sentir” floresceu, você pode até ir embora, mas a vida é um ciclo que te coloca, novamente, frente a frente aos desafios. “Minha relação com a música é desde os meus 13 anos. Fiz uma longa pausa de 10 anos, tive até uma banda nesse meio tempo, mas eu senti que precisava muito fazer algo por mim, que eu precisava voltar para o canto coral. Então, em 2013, fiz um teste para o CORALUSP, sem nenhuma expectativa de passar e deu certo. Agora, na verdade, estou intercalando um coro no outro na minha rotina”, reaviva Danielle Bambace, 29, contralto, jornalista e, agora, estudante de música.

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      O sentimento desse grupo não é apenas pela música. Há uma peça chave para fechar esse mosaico: Edu Fernandes. “Nós temos o Edu como elo de ligação em comum. É um trabalho de pessoas experientes nele e, assim, muita coisa saiu fácil. Montamos repertórios incríveis muito rápido”, comenta Luís. “Somos todos amigos, como uma grande turma. É uma grande festa e temos uma vida social fora do coro que faz com que nos entrosemos mesmo. A confiança que temos uns nos outros é essencial para que isso seja bacana”, acrescenta Danielle.

"TODO MUNDO CONSEGUE CANTAR"

     “Para cantar você não precisa estar envolvido em nenhuma coisa específica ou aula de música, basta vontade mesmo. Todo mundo consegue cantar. A musicoterapia mostrou, para mim, que qualquer pessoa pode fazer música”, acredita Carlos Henrique de Castro, 47, tenor e técnico em eletrônica. Cantando há mais de 15 anos, sua história começou com uma experiência na faculdade.

     A música é também uma oportunidade. Você pode fugir e descansar, não dela, mas da sua vida, só até a última nota cantada. “A faculdade pode ser bem estressante, o estudo para as provas, o trabalho. Aqui é um ambiente gostoso para sair um pouco disso, alimentar a mente com outros incentivos e estímulos. Para mim, cantar sempre foi uma coisa prazerosa e esse lugar é muito agradável para fazer isso”, conta Alexandre Zamora, 21, tenor e estudante de mecatrônica.

     A voz, o sentimento, a musicalidade. Essa é a “música cantada” nas diversas maneiras que encanta, apaixona, prende e revigora. Ela pode ser tudo: um detalhe, uma mudança, um gosto ou uma nova forma de encarar a realidade. Mas, uma coisa é certa: depois que você experimenta o mosaico do canto, a sua vida se torna mais colorida.

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