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HOMENAGEM AO CORAL FUNDAP

Coral Fundap apresenta Ópera do Malandro em concerto

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                uinta-feira, ao entardecer, pessoas transitam de um lado, para outro, em uma das mais movimentadas vias de São Paulo. Preocupados com seus próprios afazeres, muito provavelmente, não têm a menor ideia de que, em uma rua próxima, mais especificamente, no prédio da Fundação do Desenvolvimento Administrativo (Fundap), do Governo de São Paulo, um grupo de coral ensaia por lá. O regente do coro, César Cerasomma, de 50 anos, aguarda no anfiteatro a chegada de seus coristas que, um a um, vão ocupando a sala.

     A sala antes, silenciosa, é tomada por diferentes vozes que iniciam conversas paralelas, enquanto o ensaio não se inicia. Até que, o regente assistente, Maurício Martins pede para que todos se levantem e começassem os exercícios vocais.

     César então, chama a atenção de todos para falar um pouco sobre a apresentação “Ópera do Malandro em concerto” realizada no dia 7 de maio de 2016, no Teatro Paulo Eiró, em Santo Amaro, SP. Aplausos e comentários invadem a sala. Assim, o ensaio começa com algumas músicas do concerto: “Las Muchachas de Copacabana” e “O Casamentos dos Pequenos Burgueses”.

"É UMA PEÇA QUE ATRAI"

     O espetáculo “Ópera do Malandro em concerto”, é uma adaptação do musical criado por Chico Buarque, em 1978. “Adivinhe quanto tempo nós levamos para ensaiar a Ópera do Malandro? Exato, 2 anos e ensaiando apenas uma vez por semana”, é o que revela o corista Gilberto Ribeiro, de 65 anos. Ele entrou no Coro da Fundap na época em que o grupo era regido pela maestrina Ana Yara Campos. Seu apego pela música começou ainda jovem, “Eu sempre gostei de cantar, na minha juventude eu tinha uma banda, naquela fissura dos Beatles”.

     A peça original escrita por Chico Buarque, durante o auge da ditatura militar brasileira, tem como cenário principal o Brasil dos anos 40, rodeado de ilegalidades, prostitutas, contrabandos, corrupção e conflitos de classes. A adaptação do coral trouxe ao público arranjos inéditos que são entrelaçados com o decorrer do musical. O ator e professor, Guilherme Yazbek, empresta sua voz para contar a história do cafetão Duran e dos personagens que o cercam.

     Além de enfrentar uma batalha nos ensaios, os coristas precisam lidar com a pressão de que, no palco, eles também são artistas. “Durante a apresentação, as senhoras interpretam prostitutas, elas estão todas caracterizadas, maquiadas”.

   Harmonizar os diferentes tipos de vozes do Coral Fundap, é também, um dos grandes desafios, principalmente para o tecladista Gustavo Sarzi, de 33 anos. “Esse coral trouxe desafios para mim, como músico. Como, escutar várias vozes juntas dentro de uma sala. Não sei se é o jeito que ensaiamos ou se é a quantidade de gente, mas apesar de ser um coral amador, acrescentou um desafio legal”.

"É QUASE UM INCONSCIENTE COLETIVO"

     O Coral Fundap é um dos únicos que possui os cincos diferentes tipos de naipes: sopranos, contraltos, tenores, barítonos e baixos. A relação entre as vozes acontece com tempo e técnica. A corista e monitora do coro, Mery Kamada, de 45 anos, afirma que os diferentes tipos de naipes devem harmonizar. “As vozes precisam timbrar. Diferente do solo que a interpretação só precisa de uma única voz, no coro as vozes precisam se encaixar”.

    A relação com o público durante os espetáculos também é, bastante significativa. “É possível sentir o retorno do público, sua vibração. E o Coral Fundap tem uma vibração que, não importa o lugar que esteja, o público irá sentir. Essa troca acontece entre o grupo também, acho que deve ser até um inconsciente coletivo”, completa.

     No início, o coral da Fundap não tinha esse propósito. Há 23 anos, quando foi criado, o grupo era formado apenas por funcionários da Fundação e seu repertório incluía de música popular brasileira a erudita, mas em um determinado momento o atual regente teve a ideia de criar espetáculos temáticos.

     “Quando fala de coro, vem a ideia de pessoas cantando enquanto seguram pastas, mas há muitas formas de apresentação”, diz Cesar. Ao longo dos anos, o coro apresenta em São Paulo espetáculos que além do clássico canto, também agregam artes cênicas, danças, literatura e música instrumental.

     Entre 2001 e 2002, o grupo dedicou-se à preparação da primeira apresentação que envolvia canto e artes cênicas – Cinema! – uma montagem com um repertório de músicas que fizeram parte de trilhas de filmes. Foi então, que surgiu a ideia de comemorar os 71 anos do cantor Chico Buarque.

     “O concerto da Ópera do Malandro que fizemos lotou mais de três teatros. Claro, teve a nossa divulgação, mas também tem o retorno de ser uma obra do Chico. Acho que das montagens que já fizemos, essa é a que está dando mais retorno”, conta a coordenadora do coro e corista, Eloisa Tavares, que diz que apesar das dificuldades enfrentadas pelo grupo devido à falta de patrocínio, eles continuam tentando manter o coral.

     Se contassem ao malandro Duran que seu cenário de corrupção e jogo de interesses seria abordado por um grupo de coro cênico, ele tiraria o chapéu, sentaria na poltrona do teatro e esperaria, ansioso, sua história ser contada.

Formação do Coral Fundap

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